sábado, 2 de julho de 2011

O menino feito de mar

O menino, ainda muito pequeno, corria em direção ao mar por mais que a mãe fizesse pra ele ficar.
O menino corria para o mar porque o mar corria para ele, a mãe não entendia.
Desde muito encurtado e de calções raspando os joelhos o menino adorava correr para o mar. Era azul, verde, dançante, vibrante e chiava de prazer ao abraço do moleque.
Quando um pouco maior, o menino andava para o mar. Não andava como um homem anda, ele molejava, galanteava indo ao mar. Nessa idade sua mãe não fazia mais, ela só olhava o menino de calções mais curtos e cumprido como céu, ela ainda não entendia.
O menino fez-se homem e caminhava para o mar, tinha já os passos mais lentos, mais sábios, mais decididos. Ele queria beber o mar e toda sua imensidão silenciosa. Ele flertava com o mar, conquistava gota por gota. Sua mãe, já nessa época, gostava de vê-lo indo ao mar, gostava de vê-lo homem e do seu não-correr. Ela não entendia, mas aceitava.
O homem, de tão homem, fez-se velho. Ele praguejava contra as pernas maltratadas pela areia dos anos, mas ia ao mar. Ia como quem vai ao infinito, sem pressa, sem razão.
O homem-velho gostava ainda do som do mar. A mãe, da janela, da mais distante janela, sentia pena dele indo ao mar.
Quando ele velho-menino correu novamente para o mar a mãe não fez, não gritou, não entendeu.
Ele, que gostava tanto do cheiro de mar, virou ele cheiro também. Virou pele de mar e morreu dentro dele, ou o mar nasceu dele, nunca soube direito.

A mãe, na beira da água, viu finalmente que sempre esteve a beira do menino.
Ela senta junto ao mar e bebe o cheiro do filho.
Ela agora entende.

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